quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A balada do Cárcere de Reading

O casaco escarlate não usou, pois tinha De sangue e vinho o jeito; E sangue e vinho em suas mãos havia quando Prisioneiro foi feito, Deitado junto à mulher morta que ele amava E matara em seu leito.
Ao caminhar em meio aos julgadores, roupa Cinza e gasta vestia; Tinha um boné de críquete, e seu passo lépido E alegre parecia; Mas nunca em minha vida alguém olhar Tão angustiado o dia.

Eu nunca vi na vida que tivesse Tanta angústia no olhar, Ao contemplar a tenda azul que os prisioneiros De céu usam chamar, E as nuvens à deriva, que iam com as velas Cor de prata pelo ar.

Num pavilhão ao lado, andei com outras almas Também a padecer, Imaginando se seu erro fora grave Ou um erro qualquer, Quando alguém sussurou baixinho atrás de mim: "O homem tem que pender".

Cristo! As próprias paredes da prisão eu vi Girando ao meu redor, E o céu sobre a cabeça transformou-se em elmo De um aço abrasador; E, embora eu fosse alma a sofrer, já nem sequer Sentia a minha dor.

Sabia qual o pensamento perseguido Que lhe estugava o andar, E porque demonstrava, ao ver radiante o dia, Tanta angústia no olhar; O homem matara a coisa amada, e ora devia Com a morte pagar.

Apesar disso-escutem bem-todos os homens Matam a coisa amada; Com o galanteio alguns o fazem, enquanto outros Com a face amargurada; Os covardes o fazem com um beijo, Os bravos, com a espada!

Um assassina o seu amor na juventude, Outro, quando ancião; Com as mãos da Luxúria este estrangula, aquele Empresta do Ouro a mão; Os mais gentis usam a faca, porque frios Os mortos logo estão.

Este ama pouco tempo, aquele ama demais; Há comprar, e há vender; Uns fazem o ato em pranto, enquanto que um suspiro Outros não dão sequer. Todo homem mata a coisa amada!- Nem por isso Todo homem vai morrer.

(Oscar Wilde)

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