sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Abre aspas

Que a força do medo que tenho. Não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito. Não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito. Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe. Seja linda ainda que tristeza. Que o homem* que eu amo seja pra sempre amado*. Mesmo que distante. Porque metade de mim é partida. Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo. Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas. Como a única coisa que resta a uma mulher inundada* de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço.Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora. Se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro. Seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso. Que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui. A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria. Pra me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo. Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta. Mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar. Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia. E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor. E a outra metade também.
Oswaldo Montenegro

Um comentário:

  1. " que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor.. e a outra metade tambem"
    me define totalmente!

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